O que é Psicologia Decolonial? Uma introdução a partir da perspectiva de Maeli Calmon
- Psicóloga Maeli Calmon
- 30 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 31 de jul.
Por Maeli Calmon
A Psicologia que eu pratico não é neutra. Ela olha para as feridas abertas pela colonização e se compromete com a construção de um cuidado que reconhece raça, território, ancestralidade e poder como elementos fundamentais para compreender o sofrimento psíquico. Essa é a Psicologia Decolonial.
Psicologia Decolonial é mais do que uma teoria — é uma postura ética e política frente à vida. Ela nasce da urgência de romper com um modelo de Psicologia eurocentrado, que historicamente excluiu corpos, saberes e vivências não brancas, não ocidentais, não normativas. É uma proposta que nos chama a pensar: a quem essa Psicologia serviu até hoje? E quem ficou de fora?
Na minha trajetória como mulher negra, psicóloga e filha da diáspora, compreendo que o sofrimento mental de pessoas negras, indígenas, periféricas, LGBTQIAPN+ e tantas outras não pode ser tratado como algo individualizado ou fora de contexto. A dor muitas vezes nasce da exclusão, do silenciamento, do racismo, do machismo, da LGBTQIAPNfobia e de tantas outras violências estruturais que moldam nossa existência desde o nascimento.
Por isso, a Psicologia Decolonial é um chamado à descolonização da escuta, das práticas clínicas, dos espaços institucionais e da própria linguagem. É recusar a ideia de que só existe um jeito certo de ser, de viver, de se curar. É abrir espaço para saberes plurais — saberes que vêm das quebradas, dos terreiros, das matas, dos quilombos, das cozinhas, dos encontros.
Não se trata de negar a técnica, mas de ressignificá-la com compromisso coletivo e ancestral. Na Psicologia Decolonial, escutar alguém é também escutar as marcas da história, os silenciamentos da cultura, os modos de resistir que foram aprendidos ao longo de gerações. E é nessa escuta que mora a potência da transformação.
Psicologia Decolonial, para mim, é coragem. É reconectar o cuidado à justiça, e a escuta ao pertencimento. É saber que saúde mental não é ausência de dor, mas presença de dignidade, de rede, de reconhecimento. É lembrar que o mundo adoece quando exige que a gente negue quem é. E que o cuidado cura quando nos permite ser quem somos — por inteiro.
Se você chegou até aqui, te convido a refletir comigo:
De onde vem os seus saberes? Que vozes você tem escutado? E como seria construir um cuidado mais justo, plural e libertador?





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